Muitas mães entram em contato comigo diariamente para se queixar que o bebê está mordendo sua mama. Muitas vezes há dor, desconforto ou até mesmo machucados. A amamentação deve ser um momento agradável, prazeroso, de contato, porém a dor interfere e muito.
Precisamos compreender o que significa o morder no bebê, algumas de suas causas e como agir nesses momentos. O importante é ter muita paciência e convicção de que o bebê não faz isso por raiva da mãe. É um processo natural tanto do desenvolvimento psicoemocional quanto físico.
Do ponto de vista psicanalítico, o bebê morde como uma das atividades de sugar e digerir, já que se encontra na fase oral. Como o bebê não tem consciência de si, da mãe e de que o seio é parte dessa mãe, o desejo de morder surge e gera prazer, especialmente no período que anterior à erupção dentária. Além disso, o morder antecede à fala e esta última está emocionalmente ligada a fantasias derivadas do sugar, morder, digerir e defecar, por isso as primeiras palavras de um bebê estão associadas aos sons de sensações que a criança experiencia e lhe geram prazer. Isso se mantém por toda a vida do indivíduo.
No período de erupção dentária, a mordida surge e esta etapa é denominada oral canibalística, em que o bebê morde o seio com o surgimento da agressividade. Nesse momento, o bebê consegue demonstrar, por meio da mordida, angústia, frustração, dor, ansiedade ou impotência e tais expressões são necessárias ao seu desenvolvimento psicoemocional.
Muitas mães tendem a perceber as mordidas como hostilidade contra elas, como se o bebê as estivesse agredindo, fato que pode levar ao desmame precoce e até mesmo à redução ou cessação completa da produção láctea. Realmente há uma agressividade no ato, porém não é contra a mãe, mas um processo de destruição do objeto (no caso a mama) antes de incorporá-lo. Morder é marcar alguém; a mordida é uma palavra.
Do ponto de vista físico, o bebê pode morder por algumas situações:
– quando está com sono,
– quando se distrai durante a mamada,
– quando apresenta alguma disfunção oral,
– quando utiliza bicos artificiais,
– quando quer a atenção da mãe
– quando está na fase de erupção dentária, devido ao incômodo.
– quando o bebê começa a adquirir a percepção de que pode morder e o faz para conhecer o mundo e os objetos, por prazer oral (além de sugar, lamber e colocar tudo à boca, a mordida é uma forma de prazer oral),
– quando o fluxo de leite é aumentado, ele morde para controlar o mesmo
– quando a mama está muito cheia
– quando está mal posicionado
– quando está sofrendo algum tipo de stress
Quando o bebê morder, a mãe pode tomar algumas atitudes, levando sempre em consideração que este ato é normal. Paciência para lidar com a situação é imprescindível, pois o bebê está testando e aprendendo.
– dizer não com firmeza, sem gritar ou assustar o bebê
– interromper a mamada e questionar se já terminou (você pode colocar seu dedo mínimo no canto da boca para interromper a amamentação sem machucar a mama, só retirando a pressão intraoral)
– dar atenção para o bebê durante a mamada (deixar outras atividades e olhar, conversar, acariciar, embalar)
– se necessário, deixar outra pessoa pegá-lo por um tempo, especialmente se ele insistir em morder
– oferecer mordedores se ele estiver na fase de erupção dentária
– tirar do seio quando estiver satisfeito ou quase dormindo, para evitar mordidas
– oferecer a mama apenas quando ele desejar. Muitas vezes o fato de oferecer amamentação sem o bebê solicitar desencadeia a mordida, que é um reflexo de proteção à alimentação e ocorre normalmente quando não deseja mais se alimentar.
Não tape o nariz do seu bebê, não grite, não brigue com ele, não se negue a amamentá-lo. O que ele receber nessa fase, é o que poderá fornecer às pessoas mais tarde. Se receber agressão, dará agressão, se receber amor e compreensão, é isso que terá condições de disponibilizar!
