Uma mãe me perguntou porque o bebê mama várias vezes à noite. Ela está muito cansada com isso e é contra deixar o bebê chorar. Realmente é muito cansativo mesmo amamentar exclusivamente até 6 meses e em livre demanda pelo menos até 1 ano!

 

A falta de sono traz irritabilidade, falta de paciência, vontade de desistir de tudo, não é?

 

Certamente a melhor opção jamais será deixar o bebê chorando, pois é aí que ninguém dorme, os pais ficam angustiados e o bebê, ah, o bebê… mesmo não falando, o choro demonstra a angústia e a sensação de desintegração (é um termo psicanalítico que significa falta de integração entre mãe e bebê).

 

Como, então, equilibrar necessidade de sono materno e necessidade de alimento e contato desse bebê?

 

Nos primeiros meses isso é um desafio. Alguns bebês já adquirem uma rotina no primeiro mês; algumas pacientes relatam que eles mamam antes de dormir e só acordam entre 5 e 6 da manhã. Isso é o sonho de toda mãe, mas não é a regra.

 

Do ponto de vista fisiológico e antropológico há explicação para os bebês acordarem e chorarem tanto: o ciclo de sono dos bebês é ultradiano, diferente do adulto (circadiano). Os bebês já chegam ao sono REM assim que dormem e o ciclo de sono é de 50 minutos, aproximadamente. Isso faz com que tenham microdespertares a cada uma hora. Se ele sente o contato com a mãe e não está realmente com fome, volta a dormir. Se ele está sozinho no berço, por exemplo, há grandes chances de despertar e chorar (muitas vezes nem é por fome, mas por separação).

 

Antropologicamente, como o bebê é um ser que nasce completamente dependente, acordar e chorar na ausência materna é como um chamado para que essa mãe se aproxime e não o deixe sozinho, a mercê de animais selvagens e outros perigos. Com a aproximação, o bebê se acalma. Por isso o contato constante é tão importante, especialmente nos primeiros 3 meses de vida.

 

Por outro lado, os bebês podem ter fome e desejar mamar; nesse caso, a presença da mãe o fará buscar o seio. Mamando e se satisfazendo, ele dormirá novamente.

 

Então por que alguns bebês dormem a noite toda e outros querem mamar de hora em hora?

 

Primeiro porque cada bebê é único, tem suas necessidades e sua personalidade. Segundo, o leite materno é de rápida e fácil digestão, então é um alimento leve que logo é absorvido e o bebê pode ter realmente fome. Terceiro, o bebê pode se habituar a cada vez que tem microdespertares, a mãe o rdesperta e colocar para mamar, e isso é importante que a mãe compreenda: a diferença do bebê que busca o seio para mamar daquele que não busca o seio, mas este lhe é oferecido.

 

Conhecer as reais necessidades do bebê é um aprendizado e um desafio. Se ele apenas tem um microdespertar, estar ao lado da mãe (na mesma cama ou no berço próximo dela) e sentir seu toque e cheiro podem fazer com que durma novamente. Se ele tem fome, despertará para mamar. Claro que depois do hábito instalado, de oferecer a mama a cada microdespertar, o bebê desejará ir para o seio e a mudança desse hábito será um processo, assim como a criação do hábito!

 

Do ponto de vista psicanalítico, o bebê deve sentir (inconscientemente) que deseja o seio e ele surge, ou seja, que ele cria o seio. É uma sensação de onipotência importante para seu desenvolvimento. Ele precisa buscá-lo e encontrá-lo e não que seja colocado em sua boca sempre, entendem a diferença?

 

Dessa forma, não há regras e passos a seguir, apenas a orientação para que a mãe siga seus instintos e perceba seu bebê, especialmente compreenda os reais sinais de fome e a necessidade de contato, diferenciando ambos.