A recomendação da Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde é de que o bebê seja amamentado até os seis meses de forma exclusiva (sem outros alimentos ou líquidos, apenas o leite materno) e, ao completar seis meses, seja iniciada a alimentação complementar e o aleitamento materno seja continuado até 2 anos ou mais.
Apesar da recomendação, não há muita divulgação sobre os benefícios do leite e do aleitamento após os 2 anos do bebê, fato que permite que pais, familiares, profissionais e amigos insistam que após essa idade o leite não apresenta mais nutrientes, que o desenvolvimento mental pode ficar prejudicado ou que a criança pode ficar desnutrida.
Ainda que o termo amamentação prolongada seja utilizada para bebês amamentados por mais de um ano, hoje vamos abordar o aleitamento após o segundo ano de vida.
A Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN) divulgou um relatório em 2012 que indicou os 6 países que alcançaram a duração média de aleitamento materno até 2 anos ou mais (Butão e Malawi – 23 meses, Índia – 24 meses, Nepal – 30 meses, Bangladesh – 32,8 meses e Sri Lanka – 33 meses. O Brasil tem prevalência de apenas 24% dos bebês amamentados aos 24 meses, sendo 4% na área urbana de São Paulo (dados de 2004 e 2009).
Alguns dos efeitos do aleitamento materno no segundo ano de vida foram destacados por Boccanegra (2013):
Efeitos relacionados à nutrição
- ainda que alguns estudos apontem para a possibilidade de bebês amamentados aos 2 anos tenham risco de desnutrição, não há evidência de qua o aleitamento prolongado, por si só, esteja associado à piora do estado nutricional. Existe um risco maior em famílias pobres, de pais com menor escolaridade e com menor possibilidade de oferecer alimentos complementares adequados, mas mesmo nessas situações as vantagens do aleitamento são maiores do que em famílias com maior nível sócio-econômico.
- o crescimento de crianças amamentadas de forma prolongada se demonstrou maior do que em crianças desmamadas no segundo ano de vida.
Efeitos sobre a saúde mental infantil
- não há evidências de alterações psicológicas ou de comportamento a médio e longo prazo em crianças amamentadas no segundo ano de vida. Além disso, há associação com menor internação (aleitamento por mais de 6 meses) maior vantagem escolar (aleitamento por mais de 9 meses) e maior coeficiente de inteligência (aleitamento por mais de 12 meses).
- O leite materno é fonte de ácidos graxos e outras substâncias que são essenciais ao desenvolvimento infantil e o estímulo materno durante a amamentação pode ter efeito positivo, já que o stress tóxico é prevenido e os laços afetivos são importantes para a segurança da criança e seu desenvolvimento psíquico.
Por fim, é importante destacar algumas substâncias importantes ao desenvolvimento infantil que estão presentes no leite materno, ainda no segundo ano de vida:
500 ml de leite materno possui (Giugliani, 2004):
- 1/3 das necessidades de energia e proteína de alto valor biológico
- 45% das necessidades de vitamina A
- 95% das necessidades de vitamina C
- fatores de proteção contra doenças infecciosas
